quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

http://sonhsomarados.blogspot.com/

Para quem gosta de coisas mesmo muito esquisitas.
Se os gatos pudessem, mentir-nos-iam. Não por necessidade: por desprezo. E, se depois os confrontássemos, eles olhariam para nós com um ar aborrecido, como se os tivéssemos a fazer perder o seu tempo, e miariam:
-E?

sábado, 26 de dezembro de 2009

I can flyyyyyyyyyyy

Tive há uns tempos um sonho mesmo muito esquisito: sonhei que encontrava o David na minha dispensa, a cantar: "I can flyyyy!".
Juntei-me a ele, e enquanto cantávamos, a dispensa levantou voo.
Lá no alto, ao espreitar-mos por uma pequena janela vimos vários pinheiros plantados de maneira a escrever no chão "I CAN FLY".
Depois, a dispensa começou a cair. Durante a queda eu e o David rimos e cantámos como loucos, sem o menor medo.
Acordei cheia de saudades.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Shimbalaiê!...

Esta música lembra-me o Verão...

Os dias em que dormia com a janela do quarto aberta, para que as primeiras luzes do dia me despertassem. Deitada na cama, admirava ao mesmo tempo que me espreguiçava o céu azul, e as montanhas e vales verdejantes que rodeiam a minha casa.
Quando me apetecesse, depois de dar voltas e mais voltas nos lençóis, vestia o meu vestido branco com flores, punha no tornozelo aquela pulseira cor-de-laranja e verde com "penduricalhos", e calçava umas sandálias.
Ao chegar à cozinha, abria os estores para que a luz entrasse na casa, e, como o dia estava mesmo muito bonito, comia de pé junto à janela, ao pé do hibisco cor-de-rosa que cresce junto à casa.
De manhã, como ainda não estava muito quente, saía para passear com a Nicky, e, sem me preocupar com quem me via ou que pudesse achar, enfeitava o cabelo com flores. Há tarde, podia ler um livro enquanto apanhava Sol ou ir à praia.

Quando era pequena, passava o Verão em Setubal, com os meus avós, os meus primos e o meu irmão.
Levantáva-mo-nos muito cedo, para ir com o avô à Figueirinha (a avó nunca ia, porque não gostava de ir à praia).
Eu gostava tanto da viagem até à praia... Passávamos por grandes montes cobertos de árvores e coroados de pedras, de onde se via o mar.
Na praia, os primos nadavam quase todo o dia (não me lembro de achar a água fria nessa altura), e o tempo em que eu não estava na água a correr atrás de peixes, passava-o a apanhar conhas (ainda hoje o faço, e por isso têm-se acmulado desde há vários anos sacos e sacos de plástico cheios de conchas na minha arrecadação).
Quando regressávamos a casa, discutíamos para ver quem tomava banho primeiro, os rapazes ou as raparigas. Quando estavamos todos limpos, depois de termos pedido aos avós para não secar o cabelo (porque era muito aborrecido, demorava muito tempo e estava muito calor), jantávamos todos juntos.
Comíamos em silêncio, porque o avô estava a ouvir no pequeno e velhissimo rádio preto as noticias, e essa cerimónia era sagrada. Entretanto, os primos despachavam-se o mais que podiam, porque o ultimo a terminar a refeição seria considerado a "carroça do lixo", um título que nenhum de nós cobiçava.
Os primos bebiam sempre sumo de laranja, não por gostarem, mas por insistência do avô, e, chegada a hora da sobremesa, os primos arriscavam:
-O que queres? - perguntavam os avós.
-1/4 de maçã.
-Toma uma sala. - diziam, entregando-nos metade. Só o mais novo, o Alexandre, se safava: recusava-se a comer, ficasse sentado sózinho à mesa o tempo que ficasse, e depois de algumas vezes os avós deixaram de impingir-lhe fruta.
Depois, íamos todos juntos à feira de Santiago... Eu tinha imenso medo de andar de carrósseis, e fiz algumas fitas bem grandes, recusando-me a andar no "dragão", e no "canguru louco". Desde que não fosse eu a conduzir, gostava dos carrinhos-de-choque, mas o melhor de todos era uma grande carrossel, onde haviam girafas, cavalos de todas as cores, chávenas que giravam em redor de si próprias e ainda filas de cadeiras, para os meninos se sentarem. Ao subir para o carrossel, eu escolhia sempre um cavalo diferente, e, se os adultos nos surpreendessem com bilhetes para uma segunda volta, entrava numa chávena e ria do príncipio ao fim.
O tio Grande costumava andar connosco nesse carrossel, para nos vigiar. Porém, eu estava convencidissima de que ele o fazia por gostar de andar a cavalo numa girafa.
Às vezes, quando tinhamos fome, os adultos compravam-nos pipocas coloridas, ou farturas, ou churros.
Ofereciam também a cada primo um balão, e às vezes peças de artesanato especialmente engraçadas, como peões, ou "rouxinóis".
Ao voltarmos a casa, enquanto os adultos jogavam às cartas, bebiam café e fumavam, os primos brincavam ao quarto escuro (sem o conssentimento dos avós), "espiavam os adultos" (uma brincadeira que eu arruinei muitas vezes, desatando a rir na altura errada), ou então faziam bolinhas de sabão sobre a mesa da varanda (chamavamos-lhe "a cidade das bolhas").
Lembro-me de uma trepadeira que o avô tinha na varanda, que à noite emanava um delicioso cheiro a cera, e lembro-me também de uma vez, quando era muito pequena, assistir a uma trovoada, naquela varanda. Era de noite, e o espectáculo da luz dos relâmpagos projectada nas nuvens e o rugido que se lhe seguia... era maravilhoso. Talvez seja por causa desse dia que hoje gosto de trovoadas.
Quando já era tarde, os primos bebiam leite e comiam uma sandes, antes de lavarem os dentes e vestirem o pijama (uma T-shirt comprida, ou uma camisa de noite, para as raparigas). Os rapazes dormiam nos colchões no quarto dos avós, as raparigas na cama de casal do quarto de hóspedes.
No dia seguinte, se não fossemos a praia, eu iria de manhã com o avô à praça, comprar sardinhas para o jantar, e à tarde íamos todos passear ao jardim do Bonfim (a que nós chamáva-mos "Parque dos Piratas").
E há noite, se não fossemos à feira, arranjáva-mo-nos e íamos todos à baixa, ao "Il Caffe di Roma".

Tenho tantas saudades do Verão... às vezes, julgo-me uma crisádila, que todo o Inverno dorme e se prepara e ansiosamente aguarda a chegada do Verão, para poder sair do seu casulo, abrir as asas e voar.

I'ts WONDERLAND!!! not...

Existe para cada homem um lugar onde ele pode viver bem e em paz.
É um sítio ideal, onde o seu habitante vive uma vida longa e solitária: os que o rodeiam são meros personagens inventados, marionetas que este constrói e comanda a seu gosto.
Esse mundo pode ser destruído e erguido quantas vezes o habitante quiser. Nessa terra virgem, ele é o único que tem uma história, e, se quiser, poderá escondê-la ou mesmo esquecê-la.
É um mundo perfeito... e, ainda assim, nele o homem não consegue ser feliz, porque o persegue a revolta de saber que não é real.

sábado, 14 de novembro de 2009

Mãe é mãe, e pronto.

Tenho dezoito anos. Estudo à treze. Ainda assim, quando outro dia a minha mãe me viu sair de casa com um chapéu na cabeça, lembrou-me:
-Carolina: não te esqueças de tirar o chapéu nas aulas!

As Pombinhas da Catrina...

...Andaram de mão em mão!
Foram ter ao Rossio,
Onde encontraram o meu Irmão!

ele partiu-lhes o pescoço, e serviu-as ao almoço. (bis)

Eu e o Tomás estávamos a caminho da escola quando uma pomba se atravessou no nosso caminho:
-Odeio pombas!-bradou o meu irmão, enquanto sacudia a sua pasta na direcção do pássro, afugentando-o - São ratos com asas! Uma praga!
-Coitadinhas... -disse eu. -Deixa as pombas em paz.
-Não! O lugar delas é nos telhados, não deviam andar aqui na rua, a cagar em cima das pessoas!
-Oh Tomás!
-É verdade! Até parece que fazem pontaria! Outro dia, houve uma que não me acertou por cinco centímetros!
-Coitadinhas...
-Coitadinhas das pombinhas!... -troçou o meu irmão, esforçando-se por imitar a minha voz- Olha lá, Carolina, vou-te fazer uma pergunta: alguma vez viste pombos bebés?
-O quê?
-Alguma vez viste pombos pequeninos!
-É claro que não: estão nos ninhos!
-Errado! -corrigiu ele -Eles nascem já grandes, prontos p'ra comer!
-Que parvoíce!
-Não, é verdade!- garantiu-me, com um ar muito seguro.-Então e pombos velhos, já viste?
-Não...
-Vês!? Eles comem-se uns aos outros!
Ri até chegar à faculdade.

Os alunos são uma das melhores fontes de exploração de sempre

Realiza-se, anualmente, um ciclo de conferências na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Este ano, os convidados a conferenciar rejubilaram ao ver o auditório cheio, e confessaram que, nos anos anteriores, quase ninguém viera assistir as suas conferências.
Pergunto-me se saberão que este ano um dos professores da faculdade encarregou os seus alunos escreverem meticulosos relatórios sobre as conferencias...
O meu professor.
Assim, eu e os meus colegas abdicámos na nossa única tarde livre, para, desde as quatro às seis horas apontarmos nos nossos cadernos tudo quanto conseguíssemos sobre cada uma das conferências.
Foi um desafio difícil: recebemos entre os convidados dois espanhóis, que conferenciaram na sua língua materna; um francês que com muito esforço conferenciou em inglês; duas senhoras que se sentaram diante da secretaria e, sem aproximar a boca do microfone ou levantar os olhos do papel, começaram a ler; e muitos outros...
Muitos de nós desistiram e tiveram de abandonar a sala, outros sucumbiram ao sono e adormeceram nas cadeiras almofadadas, mas rijas, do auditório.
Tanto esforço, para, numa das últimas conferências, o meu professor anunciar a edição do livro de atas das conferências.
Suponho que, tal como as conferências este ano foram um estrondoso sucesso, o livro há-de ser um best-seller.

domingo, 1 de novembro de 2009

Minões, minões, minões!

Um índio norte-americano disse certa vez que dentro dele viviam dois cães, um bom e um mau, que lutavam sem parar desde o dia em que nascera. Quando lhe perguntaram qual dos cães venceria a briga, ele respondeu: "Aquele que eu alimentar."

Parece bastante simples.

Só que cada um dos cães tem filhos; várias ninhadas, montes de cachorros! Alguns bebés são parecidos, e, sem se importarem com a luta dos pais, brincam todos juntos.
É muito dificil distinguir os filhotes do cão bom dos do cão mau, e é dificil saber quais devemos ou não alimentar.

domingo, 4 de outubro de 2009

Uma história da família que vale a pena recordar

O meu avô é um homem à antiga: um chefe de família, de valores nem sempre correctos mas firmes, imutáveis ao longo dos anos. Três antiquissimos relógios de corda constituem o seu mais precioso tesouro, que decidiu doar aos seus filhos Homens.

Teve três filhas: Graça, Anabella, e Maria, por ordem cronológica.

Falhado o plano A, o meu avô decidiu que havia de doar os seus preciosíssimos relógios aos netos Homens.
Quando soube que a filha mais velha estava grávida, prescrutou a sua reserva em busca de uma garrafa de um Whisky excelente e quase tão antigo quanto os seus relógios, para que fosse aberta se se desse o nascimento do tão aguardado primogénito.

Nasceu a primeira neta, Ana.

O meu avô não se deixou abater: tornou a guardar a garrafa, decidido a abri-la apenas quando nascesse um rapaz.
Quatro anos mais tarde, a sua segunda filha engravidou.
Novamente, o homem encheu-se de esperanças...

...e novamente, nasceu uma menina, Marta.

Mas ele não desistiu! A filha mais nova engravidara pouco depois de Anabella, e, se tudo corresse bem, Maria teria a criança seis meses depois da irmã.
Assim, o meu avô tornou a guardar a garrafa.

Nasci eu, Carolina.

O meu avô deve ter ficado francamente preocupado: três filhas, três netas... e homens, alguém que desse continuidade ao seu nome, nem vê-los!
Tornar a guardar a garrafa fechada deve ter sido uma cerimónia lúgubre e desmoralizante.

Porém, nem um ano passara e Maria tornara a engravidar e a dar à luz: nasceu Tomás, o tão esperado neto!

Louco de alegria, o meu avô finalmente abriu a garrafa!...

O Whisky estava estragado.

Bem feita. Espero que o relógio também se estrague.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

SO WHAT???

Estive a ler todos os texto dos meu blog e reparei que muito infelizmente, a maioria são sobre amor.
Caramba, que erro tão lamentável!
Já não basta não conseguir olhar para um rapaz giro sem procurar um defeito, ou fazer uma comparação? Não é já suficientemente aborrecido falar com um rapaz, e constantemente pensar que não é tão educado, ou simpático, ou brincalhão, como tu eras??
BASTA! Quero voltar a ouvir músicas de amor sem sentir nada: nem saudade, nem tristeza; nada! Quero achar todos os poemas e todas as cartas de amor monótonos! Quero pensar que todo esse universo é uma grandessíssima mentira, juntar todas as recordações e fazer com elas uma pira, para que dance ao redor das chamas como celebração da minha renovada liderdade e recente despertar para o mundo real!
Odeio e adoro esta sensação: da dor a transformar-se em força, a paixão em raiva e toda aquela tristeza letárgica a converter-se num sentimento rancoroso, mas cheio de vida!
Agora consigo ver: cheguei tão longe... e não precisei de ti! Alcancei tantas coisas boas... e tu não contribuíste com nada para que eu fosse quem sou hoje!
Adeus, adeus, espero que cumpras todos os teus míseros objectivos e que eles te façam tão feliz quanto eu!
Bebe, come, e dorme à tua vontade, até ao último dia da tua vida! Fode quem tu quiseres, quando, onde e como tu quiseres!
És livre, tão livre quanto eu! Também me vou divertir, também vou ter a minha dose de coisas boas: a única coisa que aprendi contigo é que não se deve desperdiçar um único segundo, que devemos ocupar todo o nosso tempo com as coisas de que gostamos e a ser quem nós queremos ser!
Sozinha, ou acompanhada se me acontecer encontrar quem queira estar comigo, mas sempre em grande, assim é que eu vou viver!


SO WHAT???

Don't get Lost In Heaven

Tenho-me apercebido, ultimamente, que sempre que penso no paraíso, não imagino um lugar... penso apenas que finalmente vamos poder estar juntos outra vez.

O amor é mesmo uma merda, e a culpa é toda tua!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Antes Que Me Esqueça

Antes que me esqueça, e que nenhum de nós o faça, decidi escrever a letra da música. ANTÓNIO ARROIO!!!

"Olá sou o Filipe
E quero ir p'rá NASA
Sou tão bom designer,
Que ninguém me arrasa!"

"Olá eu sou o Ivo
E toco bué guitarra!
Gosto de garinas
E venho da Ramada!"

"Olá sou a Filipa
E gosto d'ir à escola,
Sou muito aplicada,
E não esqueço a sacola"

"Olá sou o Martinho
E sou bué Multimédia!
Quando tenho uma dúvida,
vou ver à Wikipédia!"

"Olá eu sou a Xu,
Sei bué d'After Effects,
Quando vou às aulas,
Faço g'and'as fretes!"

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Amor é fogo no coração e cinzas nas mãos.

Corre, Sahara, corre!...

Era como ter uma bola de chumbo no peito, tão pesada, tão dolorosa, que seria capaz de tudo para a tirar dali.
O melhor, seria não pensar nela... Focar-me no resto do meu corpo, empurrar aquele peso para os meus membros e transformá-lo em força nos meus músculos. Cansar-me até não conseguir pensar em nada, sentir nada...

Nisto, Sahara larga a correr. O assobiar do vento abafa a recordação da voz que grita dentro da sua cabeça, o ar a sacudir o seu pêlo branco atenua o toque que ainda sente. Sabe-lhe bem ver as suas patas velozes a pisar com força o chão, que empurra com vigor para trás de si, fazendo o dorso ondular graciosamente.
O pormenor e a perfeição com que sente cada um dos seus músculos e tendões trabalhar dentro de si, contraindo e descontraindo sucessivamente, distraem-na, satisfazem-na.
Porém, não sente as asas: leva-as dormentes, penduradas no dorso.
"Corre, Sahara, corre!" pensa "Corre e enlouquece, por saberes que mais que isso não podes!".

"Corre, Sahara, e enlouquece!" torna a pensar, antes de rosnar baixinho e soltar um latido enraivecido:

-CORRE, PORQUE VOAR NÃO PODES MAIS!!!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Amor: uma questão de perspectiva

Aah... Amor! É uma sensação maravilhosa, que Luís Vaz de Camões descreveu assim:

"Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?"

O meu humilde amigo David preferiu um vocabulário bem mais rudimentar, explicando tudo de uma maneira que toda a gente entende:

"O amor não passa de ligações quimicas no cérebro que nos "drogam" da forma natural, e que há-de ser uma parte da vida do ser humano até irmos todos com os porcos quando o Sol explodir. Se há quem tenha a sorte de encontrar um parceiro que lhe proporcione uma dose de "droga" ao longo de muitos anos e preferir chamar-lhe "Amor", por mim, tudo bem."

Se querem a minha opinião, o David foi muito mais explicito e realista que o Camões, tendo sido por isso mais bem sucedido na sua tentativa de explicar e definir o amor.

Arroianos


Arroianos! Camaradas!

Sinto-me, fancamente, traída: tinham-me dito que muitos de nós continuavam os seus estudos na Faculdade de Belas Artes de Lisboa, e eis que agora aqui chego, e me acho só!
Tenho tido muitas saudades vossas. Descobri, ao voltar à escola, que mesmo sabendo que isso não seria possivel (porque decidiram todos que a faculdade das Caldas da Rainha era fantástica), esperava tornar a encontrar-vos todos aqui.
Bem sei que me afeiçoei a poucos de vós... Porém, quando estávamos todos juntos, apesar das brincadeiras sem a menor graça, do vosso gosto pela bebida e droga que sempre condenei, para além de um gozo especial em arrotar e dar puns, vocês exalavam uma alegria e união constantes, cuja falta tenho sentido.
Ainda não me atrevi a passar pelo que resta da nossa António Arroio: provávelmente, um monte de pedras e ferros, são estes os restos de um lugar onde tanta coisa aconteceu, e que sempre havemos de recordar.
Agora, já não vai haver nenhum "Amo-te", escrito sobre a entrada, e no lugar dos extensos corredores e salas estarão enormes contentores...
Nem a nossa turma, nem a nossa escola hão-de voltar.
Lamento nunca vos ter conseguido dizer isto... e lamento ainda mais que a maioria de vocês estivesse demasiado ocupado e/ou desinteressado para me ouvir.

Catarina, Pi, Zeldrak, Andreia, Bá, Bia, David, Lipe, Chico, Ibo the man, Ju, Liro, Marishka, Martinho, Mike, Natalya, Mana, PP, Rosa, Fialho, Tiaguinho!!

Aqui escrevo o nome de todos para nunca me esquecer!

ANTÓNIO ARROIO!!!!

PS: Eis um desenho da minha turma, feito pelo Zeldrak (André, neste neste desenho) durante uma aula particularmente aborrecida... Se quiserem ver mais trabalhos dele:

http://zeldrak.deviantart.com/

sábado, 19 de setembro de 2009

Moribumdo

Há dentro de mim um animal doente, mais morto que vivo, que passa os dias que lhe restam adormecido, despertando num repente quando menos espero.
Apesar de muito maltratado e estraçalhado, o pobre bicho lá se levanta de vez em quando, erguendo-se lentamente sobre as quatro patas oscilantes, para depois se afastar manco ao mesmo tempo que rosna a quem o persegue, com os beiços bem recuados sobre os dentes.
Cada vez mais magoado, o animal arrasta-se para os cantos mais escuros que descobre, em busca de um esconderijo onde se possa achar só, mas seguro.
Às vezes, penso que já se entranhou tão profundamente nas trevas que ou já lá se perdeu e para sempre o hei-de recordar com uma certa nostalgia, sem saber se continua vivo ou não, ou se já morreu mesmo, encolhido algures onde eu não o possa ver.
Porém, quando menos espero, ele surge correndo ligeiro, com o focinho e a cauda levantados, as patas possantes, ignorando as dores das lutas passadas, ao chamamento de um sonho ou de uma expressão determinante e fatalista como "nunca mais" que ponha em risco as suas esperanças.
Rosna e late, furioso, defendendo com vontade e dedicação as coisas que toma como suas e não o são, antes de tornar a afastar-se, com feridas ainda mais profundas, rumo a escuridão. Até hoje, foi sempre derrotado.
As feridas não saram, e o pobre bicho tem o pêlo branco sempre sujo de sangue fresco, que há muito desistiu de lamber. A minha esperança, é que morra antes de ficar completamente mutilado, para não ter de passar por horrores piores.
Mas algo me diz que este animal persistente nunca há-de morrer: recusa-se a abandonar o seu propósito. Porém, poderá resignar-se a procurar os seus objectivos num outro lugar, onde seja mais bem sucedido.
Talvez fique tão cansado e dorido que adormeça ou desmaie, e as suas feridas sarem durante o sono.
Creio, infelizmente, que quando tornar a abrir os olhos, terá o corpo repleto de cicatrizes a recordar-lhe o martírio, e nunca mais recuperará a beleza de outrora.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

"Isso não são qualidades, hoje em dia"

Mais uma vez, o título deste texto é um dito do meu amigo David, que, por muito feias que possam parecer as coisas que diz, são verdadeiras. Estávamos a falar da minha ingenuidade e honestidade, e dos aborrecimentos para que me arrastam.
Ora o meu querido amigo, na tentativa de me elucidar e mostrar-me as causas dos meus problemas, acusou-me: "És burra. Isso não são qualidades hoje em dia."
Foram palavras duras, mas o atrito que tiveram com todos os valores acomolados e adorados ao longo de anos dentro da minha cabeça originou uma faísca, que em menos de nada cresceu e devorou com vorazes labaredas todo o conteúdo do meu cérebro que dizia respeito a moral.
A luz das chamas a consumirem as minhas ideias brilhou dentro do meu crânio cheia de esplendor, e ao fim de tantos anos, percebi: a moral é uma utopia. É o que nos ensinam quando somos pequenos para que saibamos como é que as coisas deviam ser. Porém, chega uma altura em que temos de perceber que se não fizermos tudo ao contrário, estamos, não há outra maneira de o dizer, lixados.
Para vivermos bem, é preciso que os outros vivam mal. É preciso enganá-los e roubar-lhes tudo para deixarmos de ter o mesmo que eles e termos mais que eles. E, se não formos inteligentes e rápidos o suficiente, o melhor é termos cuidado, porque senão vão fazer-nos isso a nós antes que o façamos aos outros.
Mas, mais perigoso ainda, é ser um tonto honesto, porque esses só dizem a verdade e pensam que os outros fazem o mesmo, e são, consequentemente, os mais fáceis de enganar.
Ah! Bem-vinda, Sahara, bem vinda ao mundo real, onde toda a gente engana, rouba ou trai pelo menos uma vez, sem se preocupar com o mal que poderão fazer aos outros mas pensando apenas no bem que isso lhes trará.
Bravo, David! Mais uma vez, um bom conselho.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Foi assim

Quando era muito, muito pequenina, tinha o hábito de agrafar várias folhas de papel umas às outras, rabiscando depois as páginas com lápis de cera e apresentando orgulhosamento o meu trabalho aos meus pais como sendo "livros".

Mais tarde, comecei a copiar letras de revistas, cartões... tudo quanto tivesse alguma coisa escrita.
Desenhava letras toscas e feias, dispondo-as aleatóriamente em filas tortas ao longo das páginas.
Mesmo que os meus pais me dissessem que não estava a escrever nada, ou que as letras estavam mal-feitas, aquele passatempo era mesmo muito bom.

Porém, com o tempo, esqueci-me dele: por mais interessante que escrever com letras disformes pudesse ser, ir à pré-primária todos os dias era muito mais divertido.
Assim, abandonei por algum tempo os meus hábitos de muito-jovem-escritora, e dediquei-me a coisas como decorar canções infantis e aprender os nomes dos dias da semana.

Até que um dia um dos meus colegas trouxe um filme, que queria ver com os amigos e a educadora. O filme chamava-se "Balto", e contava a história de um cão arraçado de lobo, que morava numa cidade no norte do Alasca. Apesar de ser desprezado por todos, quando uma epidemia atingiu as crianças da cidade, deixando-as à beira da morte, Balto arriscou a própria vida para as salvar.
Em Nome, que era como se chamava a cidade onde morava Balto, não havia os medicamentos necessários para salvar as crianças da Difteria, e devido às duras condições climatéricas, a única maneira de fazer chegar os medicamentos à Cidade era através de trenós puxados por cães.
Quando a equipa de cães encarregues de trazer os remédios se perdeu numa tempestade de neve, Balto ajudou-os a encontrar o caminho de volta a casa, salvando as crianças de toda a cidade.
No filme, Balto enfrentava um enorme urso pardo, escapava a uma avalanche e saía intacto de uma caverna cujo tecto repleto de estalactictes se desmoronava sobre ele e a equipa de cães que liderava. Entretanto, conseguiu: manter intacta a caixa onde eram transportados os frágeis frascos de medicamentos, consquistar a sua amada Jenna, uma maravilhosa cadelinha husky, e provar que tinha um bom coração ao derrotar o malvado Still, um husky invejoso e cínico, sem o atacar, nem mesmo quando este o feriu.

Aquele filme mudou a minha vida. Aos dez anos de idade, pelo Natal, finalmente consegui um DVD com a história de Balto, e ainda hoje choro ao ver o meu herói chegar a Nome e salvar as crianças. Choro ao pensar como a minha vida teria sido diferente se não fosse o Balto:

Porque, quando vi aquele filme pela primeira vez, algo mágico aconteceu: eu quis criar o meu primeiro personagem.
Queria ter um lobo só meu, forte, inteligente e belo como Balto.
Seria uma loba, para que eu pudesse encarnar nela no meu vasto mundo de imaginações... Ia ser branca, porque era a cor mais bonita de todas; e... precisava de mais alguma coisa, para ser mais especial ainda... Ah! Ia ter asas. A única loba com asas que alguma vez existira, e era minha, e era eu.

Falei aos meus pais e ao meu irmão da minha loba alada por algum tempo, mas logo achei que as meninas crescidas não pensavam em coisas como lobos com asas.
Portanto, comecei a dizer com desprezo ao meu pai e à minha mãe "quando eu era pequenina, imaginava uma loba branca com asas... mas agora já não".
Era mentira, e acho que toda a gente sabia que eu continuava, em segredo, a imaginar histórias para a minha loba alada.

Porém, quando aos cinco anos entrei para a escola primária e comecei a aprender a escrever a sério, a pôr por ordem lindas letras desenhadas com complexas linhas curvas e contra-curvas; já não tinha tanto interesse pela escrita.
Inexplicavelmente, decidi que ler era a coisa mais chata do mundo, e que escrever não devia ser melhor.
Para me dissuadir, a minha mãe impôs-me uma nova regra: cada dia, teria de ler pelo menos uma página de um livro.
Era como um castigo... Todos os dias, eu lá me sentava na poltrona da sala, e, "de trombas", lia uma página de um livro qualquer, que parecia nunca mais acabar...
Foi então que, certa vez, a minha mãe entrou no meu quarto e pousou quatro grandes livros na minha estante.
-Vais lê-los. São giros. - disse ela, de sobrolho franzido para que eu percebesse que estava a falar a sério.
Fiquei tão amuada que nem consegui responder. Olhei pelo canto do olho para os livros, fulminando-os com tanta raiva que não me surpreenderia se começassem a arder.
Nessa noite, escolhi dos quatro o mais pequeno, e assim que li o título decidi que aqueles montes de folhas iam ser ainda mais aborrecidos que todas as páginas de todos os livros que tinha lido até então: "Harry Potter e a Pedra Filosofal".
Eu nem sequer sabia o que era uma "pedra filosofal", como é que aquilo me podia interessar?!
Estava enganada. A partir daquela noite, era comum o meu pai ou a minha mãe terem de se levantar da cama e ir até ao meu quarto para me mandar parar de ler e apagar a luz (às vezes esperava que eles se deitassem outra vez para continuar a leitura).
Gostei de tudo naquele livro: as descrições, os personagens, a história...
Estava sempre ansiosa por descobrir como acabavam as histórias, mesmo ficando triste quando chegava ao fim do livro.

Lembro-me que, para meu azar, o meu pai começou a ler os livros também. Lia mais rápido que eu, e por vezes, quando eu acabava um livro, ele já estava a ler o próximo:
-Vá lá, pai, deixa-me ler só um bocadinho!
-Não, agora estou eu. - respondia ele.
Mas o pior, era quando o pai dizia, com um sorriso brincalhão:
-Bem, Carolina, aquele livro é espectacular! Tu vais adorar! Devias ver o que acontece ao... Ah, espera, não posso contar...
Às vezes provocava-me tanto que ia buscar o livro à mesinha de cabeceira dele e não lho devolvia.

Entretanto, quando a minha professora nos mandava escrever uma composição como trabalho de casa, eu esforçava-me por igualar a minha escrita à de J.K.Rowling. Sentada ao meu lado, estava minha mãe, que também tinha talento para a escrita e que passou muitas horas a corrijir e ajudar-me a compor os meus textos.

Motivada pelas histórias de Harry Potter, e pelo meu re-descoberto gosto pela escrita, eu decidi escrever a história da minha loba alada.

O único mal, era que a minha loba não tinha nome!Como é que eu ia escrever um livro sobre a minha loba alada, sem lhe saber o nome?

Encontrei o nome ideal durante uma conversa com a minha mãe, em que ela me contou que um dos nomes que me queria dar, era "Sahara".
Achei-o o mais bonito de todos os nomes. Era tão exótico, e quando se pronunciava quase que se cantava: "Sa-haa-ra"... Além do mais, era assim que se chamava o maior deserto do mundo, o que lhe acrescentava um carácter misterioso e forte, para além de romântico.
Fiquei triste por não me terem chamado assim, e foi uma consolação poder dar esse nome à minha loba alada.

Pude, então, escrever a história da minha loba! Devia ter seis ou sete anos quando terminei, muito orgulhosamente, uma história de seis páginas, em que Sahara derrotava um temível dinossauro.
Ainda não consegui perceber muito bem onde fui buscar a ideia...

Desde então, nunca parei de escrever.
Adorava todo o tipo de texto, todo o género de história!
Escrevi contos, romances e poemas sobre tudo. Deste modo, eu teria treino e talento suficiente para alcançar a minha maior aspiração: escrever um romance com a história de Sahara.
Queria que fosse uma história muito melhor que aquela que escrevera à anos atrás, que me levasse à celebridade e, sobretudo, que imortalizasse a minha loba.

Mas os meus planos tinham um inimigo, alguém de quem nunca suspeitara e que fui incapaz de combater: eu.
A única coisa com que eu não contara, fôra crescer.
Quando me dei conta da fragilidade, da subtileza que a minha imaginação começava a adquirir,já era tarde demais: já não conseguia escrever as mesmas coisas que escrevia antes. Apesar de compor melhor as frases, os textos... as ideias já não eram as mesmas.

Apesar de tudo, continuei a escrever, e hoje, estou onde estou.

Esta é a história da minha escrita. Tudo o que tenho agora, foi resultado do meu trabalho ao longo de muitos anos.
Sempre escrevi. Mesmo quando não havia nas minhas páginas uma única palavra coerente, ou quando as minhas histórias não passavam de descargas de imaginação sem sentido... eu gostava de escrever, e eu precisava de escrever.

Agora sei que provavelmente nunca virei a escrever um romance com a história da minha loba. Esperei demasiado para o fazer. Porém, tenho novos planos para ela: talvez toda a minha obra venha a ser a sua história.
Afinal, eu sou Sahara... Seria um erro procurar outra história para mim que não a minha.
Se trabalhar o suficiente, e sempre com gosto... Talvez consiga levar Sahara onde quero.

sábado, 22 de agosto de 2009

abelhas, baleias, e pastéis de Belém

"Vou para um lugar onde só há pinheiros e mar."
"Esses lugares são bons para pensar..."
"Pensar em quê, David?"
"Em abelhas, baleias e coisinhas pequeninas como pastéis de Belém."

Este foi um dos conselhos mais inúteis e desprovidos de sentido que David, o meu melhor amigo, me deu. Supera-se todos os dias, surpreende-me repetidamente. Todas as vezes que penso que atingiu o auge, ele vai um pouco mais além.
Se bem que às vezes diga algumas coisas bastante acertadas...