terça-feira, 2 de setembro de 2014

Fernando Pessoa aqui em Bruxelas



Não posso deixar de me perguntar: será que, independentemente dos meus esforços, nada poderá afastar-me deste meu “talento” (apesar de ao longo destes ultimos anos o ter menosprezado)? Mais cedo ou mais tarde, ele revelar-se-á talvez como aquilo a que muitos chamam “destino”.
Eu não acredito nessas parvoíces. Nas nossas vidas escrita nas estrelas, na vontade de Deus... Todas essas lenga-lengas não passam de tretas. Mas sei que há coisas que não podemos controlar, e de que não nos podemos separar, ainda que o queiramos.  
É, por exemplo, o caso disto. Faz parte de mim como a minha própria carne. Tão natural como o bater do meu coração, e por vezes é tão urgente que fazê-lo alivia-me como respirar após uma crise de asma.
Muitos antes de mim se lançaram nesta aventura. Ignoro o fim das suas histórias. No meu caso, para o melhor e para o pior, sou obrigada a admitir: pouco importa a que velocidade se corra, nem para quão longe se fuja. É impossível fugir de si próprio.
E no final de contas – seria isso que eu realmente queria? Melhor que escapar às minhas recordações, à minha personalidade – não é infinitamente mais agradável, ao fim da extenuante viagem, descobrir sobre a própria cabeça a grinalda de hera?

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

I believe most people are put off by me. It is not obvious why; I, myself, can't seem to put my finger on it. 
According to the daring fews who approach me enough to judge me, my personality is so contradictory it is difficult to describe, let alone define. So, when most of these people find themselves forced to do it, they chose the word "weird". It works rather well, i guess. It does suggest i am difficult to comprehend and make people uneasy without them having to specify why. 
No one has ever found the reason. Not even me, and i have been putting up with myself from the day i was born. 

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O momento em que eu mudo

Durante todo o tempo que passei de férias, estive acompanhada: mesmo durante o sono. Às vezes, até enquanto estava a tomar um duche havia a possibilidade de alguém entrar na casa-de-banho, para me informar de algo. Assim, passei da solidão triste de Bruxelas à companhia evasiva de Lisboa. Foi como se me tivessem despejado em cima um reconfortante balde de água gelada.
Ocasionalmente, apercebi-me de que não tinha tempo para estar comigo mesma. E, tal como se tivesse saudades de outra pessoa, senti a falta da minha própria companhia.
Terminadas as férias, a minha família levou-me ao aeroporto. Enfrentámos juntos os momentos stressantes do processo do check-in, passámos uma última meia-hora juntos; e, finalmente tivemos de nos despedir.
Quando me afastei deles, um sentimento familiar apoderou-se de mim subitamente: tive a sensação de me ter re-encontrado, ali, naquela exacta parte do aeroporto onde os meus entes queridos deixavam de conseguir ver-me:
-Ficaste aqui à minha espera, foi? -perguntei num tom trocista, e muito baixinho, não fosse alguém reparar que estava a falar sozinha.
Entretanto, o meu eu que ali tinha ficado agarrava-se a mim sofregamente, de tão ansioso que estava pela falta que lhe tinham feito o meu corpo e o seu resto de mim.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

É sempre a andar!

Tenho o hábito de escrever apenas quando me sinto triste. Ora, há que mudar isso, e hoje é um dia tão bom para o fazer como outro qualquer. Hoje, tive um dia mesmo bom.
Dormi tudo o que tinha a dormir, encontrei o meu passe de transportes públicos (há muito desaparecido), e ao abrir o e-mail, tive uma surpresa muito agradável. Saltitando de degrau em degrau, desci as escadas e saí à rua, para sem me preocupar com horas nem com nada (um luxo que gozo poucas vezes), dar uma voltinha. No caminho, entrei pela primeira vez numa lojinha portuguesa, onde comprei queijadas de feijão, um pão com chouriço e ainda me ofereceram um café. Ficou a saudade por um  bocado saciada, e eu, de tão contente, voltei para casa a cantar baixinho esta canção:

"Lá vai o comboio, lá vai a apitar,
Lá vai o comboio, tão longe do mar!
Lá vai o comboio, queira logo entrar,
Que este o comboio não vai esperar!"

Tão bem disposta, já não custava tanto rir-me de toda a intriga. E para manter a moral em alta, recordei ainda a boa sabedoria popular que há tanto tempo conheço e quase nunca emprego. Coisas do género: "Mais vale um pássaro na mão, do que dois a voar". E como se os atenciosos conselhos do meu povo não bastassem, evoquei as razões históricas, mais nobres: "Há que honrar tão antigas alianças...".
Sim senhora, foi um grande dia.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012


O cuidado pela beleza, o prazer nas artes e a paixão pela cultura... Tudo o que eu era desapareceu consumido pelo cansaço.