Era como ter uma bola de chumbo no peito, tão pesada, tão dolorosa, que seria capaz de tudo para a tirar dali.
O melhor, seria não pensar nela... Focar-me no resto do meu corpo, empurrar aquele peso para os meus membros e transformá-lo em força nos meus músculos. Cansar-me até não conseguir pensar em nada, sentir nada...
Nisto, Sahara larga a correr. O assobiar do vento abafa a recordação da voz que grita dentro da sua cabeça, o ar a sacudir o seu pêlo branco atenua o toque que ainda sente. Sabe-lhe bem ver as suas patas velozes a pisar com força o chão, que empurra com vigor para trás de si, fazendo o dorso ondular graciosamente.
O pormenor e a perfeição com que sente cada um dos seus músculos e tendões trabalhar dentro de si, contraindo e descontraindo sucessivamente, distraem-na, satisfazem-na.
Porém, não sente as asas: leva-as dormentes, penduradas no dorso.
"Corre, Sahara, corre!" pensa "Corre e enlouquece, por saberes que mais que isso não podes!".
"Corre, Sahara, e enlouquece!" torna a pensar, antes de rosnar baixinho e soltar um latido enraivecido:
-CORRE, PORQUE VOAR NÃO PODES MAIS!!!
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