segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Algumas coisas em que eu acreditava piamente quando era criança

1 - Quando era criança, tinha horror a ter de passar pela puberdade: toda a gente dizia que era um período muito duro... Eu pensava que era uma fase muito difícil porque, independentemente do que uma pessoa fizesse, ficava muito, muuuito pobre.

2 - Pensava que os adultos penduravam aquelas bolas vermelhas e brancas no cabos de alta tensão para os enfeitar.

3 - Os adultos sabiam tudo. Por exemplo, se eu lhes perguntasse qual era a raiz quadrada de 957629058235926+421356/434853 ao cubo, eles responder-me-iam no mesmo instante, porque haviam decorado todos os resultados de todas as contas na escola.

4 - Tudo o que acontecia nos filmes era real. Por isso eu tinha muita pena dos actores que "morriam". Achava-os estúpidos por se sacrificarem daquela maneira para se tornarem famosos, porque, na verdade, já eram tantos que tentavam alcançar a fama daquela maneira que já ninguém lhes ligava nenhuma.

5 - Todas as pessoas eram boas. Só que havia alguma que era má e que andava a poluir o mundo. Um dia, enquanto esperava no carro pela minha mãe, que tinha ido a uma peixaria, vi passar uma mulher loira que estava a comer um pacote de bolachas. Quando terminou, deitou o plástico para o chão. "É aquela!" pensei.

6 - O sabor das comidas de que eu não gostava era diferente para as pessoas que gostavam. Por exemplo, brócolos sabiam-lhes a batatas fritas.

7 - Todos os adultos comiam piri-piri e bebiam café. Para mim, um adulto que não o fizesse, não era um verdadeiro adulto. Acreditava nisto porque os meus pais comiam os dois muito piri-piri todas as refeições, mas eu e o meu irmão, como éramos pequenos, não conseguíamos suportar o sabor a picante. Quando a minha mãe me contou que em Moçambique se comia piri-piri desde os seis anos, fiquei muito invejosa das crianças de lá: eu era mais velha que eles e ainda não conseguia. Achava que todos os adultos bebiam café porque os meus pais o faziam, mas eu e o meu irmão não estávamos autorizados sequer a prová-lo. Certo dia, os meus primos contaram-me, muito orgulhosamente, que já tinham bebido leite com café. Achei inadmissível que eles já tivessem bebido café e eu não, sobretudo o Alexandre, que era o mais novo dos cinco. Quis logo beber um galão, e, quando mo permitiram, senti-me muito importante.

8 - Quando íamos às compras e o empregado da caixa nos entregava algum troco, eu achava que ele estava a ser simpático e a devolver-nos o dinheiro.

9 - Se se usasse um cartão multibanco para fazer compras, não se pagava.