terça-feira, 1 de novembro de 2011

Não me apetece trabalhar. Mas também não sou capaz de sair e de me divertir, porque sei que devia estar a trabalhar.
Hoje não consigo concentrar-me. Já tentei. Vezes sem conta.
Só consigo pensar numa coisa: bolachas. Quero mesmo fazer bolachas.
Não para as comer... Só para estar ocupada a fazer algo que não me obrigue a pensar.

Detesto esta sensação. A maioria das pessoas adora quando não quer fazer nada e tem a oportunidade de não fazer nada.
Eu detesto.
Quero ter sempre vontade de fazer qualquer coisa. Se me apetecesse realmente desenhar, escrever, sair... Ao menos eu estaria a fazer alguma coisa. Assim, estou só para aqui a ser mole.
Detesto isto. Detesto, detesto, detesto...

Quase consigo ouvir as minhas professoras de desenho. Sei que não as ouviria se estivesse a desenhar. Quase consigo ouvir a minha professora de guião. Sei que não a ouviria se estivesse a escrever. Quase consigo ouvir o meu professorde 3d. SEi que não o ouviria se estivesse a praticar. Quase consigo sentir a gordura a acumular-se nas minhas ancas. Sei que não sentiria isto se me estivesse a mexer.

Tenho demasiadas vozes na minha cabeça. Quem me dera que elas se calassem de uma vez por todas.

Será que é demasiado tarde para ligar o forno e fazer as bolachas?
Ah, merda, não tenho os ingredientes todos...

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Não te sei dizer, amigo,
Se sou ou não nómada.
Se sou sedenta de aventura,
Ou de calmaria.

A verdade, é que me custa
Escolher entre a carne e o sonho.
Entre o momento e a saudade...
Percebes?

É que, na minha ânsia de ser Sol,
Eu rejeito qualquer gota de Chuva.
À há tanto tempo o faço,
Que já não consigo distinguir uma coisa da outra,
E já não sei se sou o que finjo,
Ou o que escondo.

domingo, 28 de agosto de 2011

R.I.P. , por favor!

Já passou tanto tempo que me espanta que alguém seja capaz de descobrir o local onde tudo foi enterrado. Afinal, tratei de calcar e recalcar a terra recalcada, depois de o enterrar o mais profundamente possível.
O lugar mudou muito desde então: cresceram plantas, rolaram pedras... Está completamente diferente. Eu própria já não o conseguiria encontrar.
Todavia, houve alguém que o fez: o meu antigo companheiro traiu-me, decerto, e indicou-lhe o local de descanso daquele pobre diabo. Tenho que admitir que não esperava que ele se lembrasse.
A sepultura foi aberta, e um saco de plástico preto daqueles para o lixo, foi de lá tirado, todo sujo de terra. Estava inesperadamente leve.
Antes, talvez me indignasse pela profanação daquele lugar aonde só eu e ele deveríamos ter acesso, mas agora não me importei.
O saco foi aberto, e imagino que a intrusa tenha ficado surpreendida, e mesmo incrédula, ao descobri-lo vazio. Já nem sequer havia um cadáver podre e mal-cheiroso lá dentro: só algum pó, que se confundia com a terra que conseguira penetrar no saco. Ali já não se encontravam nem mesmo vermes.
Não sei se estará aliviada ou irritada, ou se desconfiará das coordenadas que lhe foram dadas.
Seja como for, não me diz respeito e não me importa.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Abençoado o trabalho, que nos vale o nosso dinheiro. E abençoado o dinheiro, que compra o nosso pão. E abençoado o pão, que mantém vivos os nossos corpos.

Maldito o trabalho que consome dia após dia os preciosos dias da nossa vida! E maldito o dinheiro, que nunca chega para mais do que o suficiente! E maldito o pão, que nos permite sobreviver sem que nunca saibamos se um dia iremos ou não viver!
Porque hão-de o esforço e o sacrificio ser tão valorizados? Porque havemos de sentir gratidão e não ambição quando damos tanto e recebemos tão pouco? Porque havemos de nos saciar com comida quando temos fome de outras coisas?!
Sinto profundamente a falta de uma vida mais simples: aquela em que matávamos para comer e bebíamos porque tinhamos sede. Uma vida orientada pelas nossas necessidades e sentimentos, uma vida em que soubéssemos para que estávamos a lutar e que no fim do dia fizesse sentido.
Uma vida com tempo...
Tempo.
Não tenho tempo para nada. Nunca chego a trabalhar tanto quanto devia, mas também não descanso tanto quanto preciso...

Mas não passa de uma utopia, eu sei, eu sei... Não existe em lugar algum semelhante paraíso.
Resta-nos imaginá-lo.

terça-feira, 21 de junho de 2011




Fui aceite em La Cambre, na Bélgica, como estudante Erasmus... Vamos ver se tenho dinheiro para ir para lá.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Não me sinto confortável ao revelar os textos que escrevo com mais paixão: é como exibir a minha alma, a mais pura essência do meu ser, a quem os lê. Sinto que estou a oferecer a esse leitor as armas que mais profundamente me ferem, a revelar-lhe os meus pontos mais fracos, e a indicar-lhe as mentiras que eu mais gostaria de ouvir.
É perigoso expor-nos tanto.

sábado, 14 de maio de 2011

domingo, 27 de março de 2011

A Catarina telefonou-me à pouco a contar-me que tinha encontrado um cão abandonado ao pé de casa dela: deixaram-no juntamente com uma jaula num canteiro diante de uma garagem. O bicho estava cheio de medo, todo encolhido no seu cantinho. Segundo a Catarina, ele não se mexia muito.
Alguns vizinhos aperceberam-se que a minha amiga e a respectiva mãe estavam muito interessadas no cão, e abriram as janelas para lhes contarem, empoleirados no parapeito, que ele já ali estava desde ontem ou anteontem, precisamente no mesmo sítio, e que já lhe tinham dado alguma comida (de gato, supôs a Catarina, uma vez que o vizinho que o alimentou só tem gatos de estimação e por causa deles não deu abrigo ao cão).
Percebi imediatamente o que a Catarina queria: pensou que talvez pudesse deixar aquele pobre animal em minha casa, num canil, que até pode não ser muito mais confortável do que a rua, mas é sem dúvida mais seguro. Tive imensa vontade de lhe dizer: "Trá-lo para cá, damos-lhe ração, água, e uma manta com uma cestinha", mas sabia que não podia... Afinal, esta quinta não é minha, mas do meu padrasto, que não o aceita cá nem por uma noite. Não o levo a mal, está a atravessar muitos problemas financeiros e alimentar mais um cão seria muito difícil. Por isso, limitei-me a pedir-lhe que não o deixasse na rua. Mencionei uma loja onde uma tia minha cujos gatos procriam como coelhos costuma entregar ninhadas inteiras de pequenos felinos de todas as cores: talvez eles aceitassem o cão. Pedi a Catarina que mo descrevesse,uma vez que para ser aceite na loja o animal tinha de ser dócil, e uma vez que ela ainda tinha algum receio de se aproximar dele, o método mais eficaz para descobrir o seu temperamento seria identificar a raça.
-Sei lá... -disse ela. -É castanho, tem uma mancha branca... As orelhas caídas... Acho que é rafeiro.
-É grande?
-Eh pá não sei...
-É do tamanho de um Golden?
-Um bocadinho mais pequeno, mas não muito.
-Sabes a idade? Consegues perceber pelo focinho de ainda é cachorro?
-Não, não faço ideia.
Contactei a tal tia que costuma ir deixar gatinhos À loja de animais e ela revelou-me que não aceitam lá cães, apesar de se poder deixar uma fotografia e um anúncio para adopção do animal na página do facebook da loja.
Quando voltei a telefonar À Catarina para lhe contar isto, ela revelou-me que o cão já a seguia de um lado para o outro, e se encostava a ela e lhe lambia as mãos, muito feliz. Era dócil, então.
Apesar de a mãe da Catarina ter algum medo de cães e preferir vê-los longe dela, cedeu aos pedidos da filha, que como eu adora cães, e concordou em alojar o animal só por uma noite, desde que a filha o vigiasse e na manhã seguinte o fossem deixar a uma clínica veterinária: um médico seu amigo já lhes disse que está disposto em encontrar uma família para o cão.
Dentro de casa, o cãozinho assustado tornou-se um animal confiante e cheio de energia, que começou a explorar as divisões de rabo no ar a abanar.
-Agora o cão está hiper-activo!- disse-me ela. -Anda todo feliz de um lado para o outro!
-Então, está contente: "Yay, estou outra vez numa casa, com pessoas"!
-Pois, mas não pára quieto... E subiu para a minha cama.
-Hããã... Pois, se calhar é melhor tirares o cão da tua cama...
-Como?
-Sei lá, puxa-o, empurra-o...
-E se ele me morde?
-Pois... Ele parece meiguinho, pelo que tu disseste.
-Eu não vou fazer isso a um cão que não conheço.
-Mas também não é bom teres um cão que não conheces na tua cama.
-Bolas. Ele adorou a minha manta, está aqui todo feliz a espreguiçar-se. Eh pá, eu gosto desta manta... - desabafou ela, cheia de medo que o cão lhe estragasse a manta -Olha, e ele tem uma mancha na pata, será que aquilo é uma carraça? Eu não quero uma carraça no meu quarto.
-Não consegues ver?
A Catarina tinha medo de lhe mexer, mas conseguiu aproximar-se o suficiente para perceber que não se tratava de uma carraça, mas de uma ferida.
-Parece que foi cortado... -descreveu ela.
-É na almofadinha? Se calhar ele cortou-se num bocado de vidro...
-Não, tu não percebes, é um corte bué certeiro... Tipo, vê-se a carne, falta um bocado...
-'Tás a dizer que alguém cortou o cão?!
-Não! Por que é que alguém havia de cortar um cão? - não disse nada, mas recordei o caso de um cachorrinho chamado Coockie que apareceu na União Zoófila sem uma pata, que tinha sido cortada por alguém que o usara para praticar voodoo. - Imagina, é como se ele tivesse uma feria, tivesse crescido crosta, e depois a crosta tivesse sido arrancada.
-Ah... -não parecia tão grave quanto eu pensara, e estava prestes a pedir à Catarina que desinfectasse a ferida quando de repente a mãe dela começou a falar.
Deram água ao cão, que bebeu vorazmente (devia estar quase desidratado... muitas vezes, as pessoas dão comida aos animais abandonados, mas esquecem-se que além de fome, eles têm sede, e não sabem onde procurar água), e deram-lhe frango cozido, ao qual tiraram minuciosamente os ossos. OS cão engoliu a carne surpreendentemente rápido:
-Ok... ele está a comer. -disse-me Catarina.
-Óptimo. Se eu fosse a ti, aproveitava para fechar a porta do quarto, para ele não voltar a subir para...
-Ele já comeu! - exclamou ela.
Nem queria acreditar. Como é que era possível? Voltaram a encher o prato e novamente ele devorou a comida em menos de nada.
-Coitadinho, devia estar esfomeado... -dizíamos eu e a Catarina.
Segundos depois, quando ele acabou, correu para o quarto da Catarina e voltou a saltar para a cama. Enquanto a Catarina lhe ordenada que fosse para o chão com a voz mais ameaçadora de que era capaz, a mãe dela encheu o prato do cão com cabrito e batatas assadas, que a Catarina usou para o atrair para fora da cama.
Mais uma vez, comeu tudo em menos de nada, e voltou para o quarto.
-Oh meu Deus, ele está a tentar fazer sexo com a minha almofada!
-GAH! Tira daí a tua almofada!
-A minha cama está cheia de almofadas!
-Tira-as daí! E não durmas com elas!
-Ponho-as aonde?
-Sei lá! Empilha-as no guarda-fatos!
Ela conseguiu tirar o cão da cama e pouco depois ouvi-a dizer:
-Merda.
-O que é que ele fez?
-Literalmente. - disse ela, interrompendo-me subitamente a meio da frase.
-Oh... Ele não está educado para fazer as necessidades na rua.
-Mas que raio de donos eram esses?!
-Catarina, há montes de pessoas assim! Não educam os cães, e depois quanto eles crescem e deixam de ser cachorrinhos fofinhos as asneiras que eles fazem deixam de ter piada e os donos acabam por se fartar deles e abandonam-os.
-Este cão está-me a dar vontade de chorar...
-A mim também.
Depois de uma grande confusão, decidiu-se que o cão passaria a noite na varanda da madrinha da Catarina, que mora no mesmo prédio que ela.
Amanhã, ele irá para o veterinário, e se tiver sorte, conseguirá uma família paciente que o acolha como todos os cães merecem.
Se eu pudesse, ficaria com ele...