domingo, 4 de outubro de 2009

Uma história da família que vale a pena recordar

O meu avô é um homem à antiga: um chefe de família, de valores nem sempre correctos mas firmes, imutáveis ao longo dos anos. Três antiquissimos relógios de corda constituem o seu mais precioso tesouro, que decidiu doar aos seus filhos Homens.

Teve três filhas: Graça, Anabella, e Maria, por ordem cronológica.

Falhado o plano A, o meu avô decidiu que havia de doar os seus preciosíssimos relógios aos netos Homens.
Quando soube que a filha mais velha estava grávida, prescrutou a sua reserva em busca de uma garrafa de um Whisky excelente e quase tão antigo quanto os seus relógios, para que fosse aberta se se desse o nascimento do tão aguardado primogénito.

Nasceu a primeira neta, Ana.

O meu avô não se deixou abater: tornou a guardar a garrafa, decidido a abri-la apenas quando nascesse um rapaz.
Quatro anos mais tarde, a sua segunda filha engravidou.
Novamente, o homem encheu-se de esperanças...

...e novamente, nasceu uma menina, Marta.

Mas ele não desistiu! A filha mais nova engravidara pouco depois de Anabella, e, se tudo corresse bem, Maria teria a criança seis meses depois da irmã.
Assim, o meu avô tornou a guardar a garrafa.

Nasci eu, Carolina.

O meu avô deve ter ficado francamente preocupado: três filhas, três netas... e homens, alguém que desse continuidade ao seu nome, nem vê-los!
Tornar a guardar a garrafa fechada deve ter sido uma cerimónia lúgubre e desmoralizante.

Porém, nem um ano passara e Maria tornara a engravidar e a dar à luz: nasceu Tomás, o tão esperado neto!

Louco de alegria, o meu avô finalmente abriu a garrafa!...

O Whisky estava estragado.

Bem feita. Espero que o relógio também se estrague.

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