segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Shimbalaiê!...

Esta música lembra-me o Verão...

Os dias em que dormia com a janela do quarto aberta, para que as primeiras luzes do dia me despertassem. Deitada na cama, admirava ao mesmo tempo que me espreguiçava o céu azul, e as montanhas e vales verdejantes que rodeiam a minha casa.
Quando me apetecesse, depois de dar voltas e mais voltas nos lençóis, vestia o meu vestido branco com flores, punha no tornozelo aquela pulseira cor-de-laranja e verde com "penduricalhos", e calçava umas sandálias.
Ao chegar à cozinha, abria os estores para que a luz entrasse na casa, e, como o dia estava mesmo muito bonito, comia de pé junto à janela, ao pé do hibisco cor-de-rosa que cresce junto à casa.
De manhã, como ainda não estava muito quente, saía para passear com a Nicky, e, sem me preocupar com quem me via ou que pudesse achar, enfeitava o cabelo com flores. Há tarde, podia ler um livro enquanto apanhava Sol ou ir à praia.

Quando era pequena, passava o Verão em Setubal, com os meus avós, os meus primos e o meu irmão.
Levantáva-mo-nos muito cedo, para ir com o avô à Figueirinha (a avó nunca ia, porque não gostava de ir à praia).
Eu gostava tanto da viagem até à praia... Passávamos por grandes montes cobertos de árvores e coroados de pedras, de onde se via o mar.
Na praia, os primos nadavam quase todo o dia (não me lembro de achar a água fria nessa altura), e o tempo em que eu não estava na água a correr atrás de peixes, passava-o a apanhar conhas (ainda hoje o faço, e por isso têm-se acmulado desde há vários anos sacos e sacos de plástico cheios de conchas na minha arrecadação).
Quando regressávamos a casa, discutíamos para ver quem tomava banho primeiro, os rapazes ou as raparigas. Quando estavamos todos limpos, depois de termos pedido aos avós para não secar o cabelo (porque era muito aborrecido, demorava muito tempo e estava muito calor), jantávamos todos juntos.
Comíamos em silêncio, porque o avô estava a ouvir no pequeno e velhissimo rádio preto as noticias, e essa cerimónia era sagrada. Entretanto, os primos despachavam-se o mais que podiam, porque o ultimo a terminar a refeição seria considerado a "carroça do lixo", um título que nenhum de nós cobiçava.
Os primos bebiam sempre sumo de laranja, não por gostarem, mas por insistência do avô, e, chegada a hora da sobremesa, os primos arriscavam:
-O que queres? - perguntavam os avós.
-1/4 de maçã.
-Toma uma sala. - diziam, entregando-nos metade. Só o mais novo, o Alexandre, se safava: recusava-se a comer, ficasse sentado sózinho à mesa o tempo que ficasse, e depois de algumas vezes os avós deixaram de impingir-lhe fruta.
Depois, íamos todos juntos à feira de Santiago... Eu tinha imenso medo de andar de carrósseis, e fiz algumas fitas bem grandes, recusando-me a andar no "dragão", e no "canguru louco". Desde que não fosse eu a conduzir, gostava dos carrinhos-de-choque, mas o melhor de todos era uma grande carrossel, onde haviam girafas, cavalos de todas as cores, chávenas que giravam em redor de si próprias e ainda filas de cadeiras, para os meninos se sentarem. Ao subir para o carrossel, eu escolhia sempre um cavalo diferente, e, se os adultos nos surpreendessem com bilhetes para uma segunda volta, entrava numa chávena e ria do príncipio ao fim.
O tio Grande costumava andar connosco nesse carrossel, para nos vigiar. Porém, eu estava convencidissima de que ele o fazia por gostar de andar a cavalo numa girafa.
Às vezes, quando tinhamos fome, os adultos compravam-nos pipocas coloridas, ou farturas, ou churros.
Ofereciam também a cada primo um balão, e às vezes peças de artesanato especialmente engraçadas, como peões, ou "rouxinóis".
Ao voltarmos a casa, enquanto os adultos jogavam às cartas, bebiam café e fumavam, os primos brincavam ao quarto escuro (sem o conssentimento dos avós), "espiavam os adultos" (uma brincadeira que eu arruinei muitas vezes, desatando a rir na altura errada), ou então faziam bolinhas de sabão sobre a mesa da varanda (chamavamos-lhe "a cidade das bolhas").
Lembro-me de uma trepadeira que o avô tinha na varanda, que à noite emanava um delicioso cheiro a cera, e lembro-me também de uma vez, quando era muito pequena, assistir a uma trovoada, naquela varanda. Era de noite, e o espectáculo da luz dos relâmpagos projectada nas nuvens e o rugido que se lhe seguia... era maravilhoso. Talvez seja por causa desse dia que hoje gosto de trovoadas.
Quando já era tarde, os primos bebiam leite e comiam uma sandes, antes de lavarem os dentes e vestirem o pijama (uma T-shirt comprida, ou uma camisa de noite, para as raparigas). Os rapazes dormiam nos colchões no quarto dos avós, as raparigas na cama de casal do quarto de hóspedes.
No dia seguinte, se não fossemos a praia, eu iria de manhã com o avô à praça, comprar sardinhas para o jantar, e à tarde íamos todos passear ao jardim do Bonfim (a que nós chamáva-mos "Parque dos Piratas").
E há noite, se não fossemos à feira, arranjáva-mo-nos e íamos todos à baixa, ao "Il Caffe di Roma".

Tenho tantas saudades do Verão... às vezes, julgo-me uma crisádila, que todo o Inverno dorme e se prepara e ansiosamente aguarda a chegada do Verão, para poder sair do seu casulo, abrir as asas e voar.

I'ts WONDERLAND!!! not...

Existe para cada homem um lugar onde ele pode viver bem e em paz.
É um sítio ideal, onde o seu habitante vive uma vida longa e solitária: os que o rodeiam são meros personagens inventados, marionetas que este constrói e comanda a seu gosto.
Esse mundo pode ser destruído e erguido quantas vezes o habitante quiser. Nessa terra virgem, ele é o único que tem uma história, e, se quiser, poderá escondê-la ou mesmo esquecê-la.
É um mundo perfeito... e, ainda assim, nele o homem não consegue ser feliz, porque o persegue a revolta de saber que não é real.

sábado, 14 de novembro de 2009

Mãe é mãe, e pronto.

Tenho dezoito anos. Estudo à treze. Ainda assim, quando outro dia a minha mãe me viu sair de casa com um chapéu na cabeça, lembrou-me:
-Carolina: não te esqueças de tirar o chapéu nas aulas!

As Pombinhas da Catrina...

...Andaram de mão em mão!
Foram ter ao Rossio,
Onde encontraram o meu Irmão!

ele partiu-lhes o pescoço, e serviu-as ao almoço. (bis)

Eu e o Tomás estávamos a caminho da escola quando uma pomba se atravessou no nosso caminho:
-Odeio pombas!-bradou o meu irmão, enquanto sacudia a sua pasta na direcção do pássro, afugentando-o - São ratos com asas! Uma praga!
-Coitadinhas... -disse eu. -Deixa as pombas em paz.
-Não! O lugar delas é nos telhados, não deviam andar aqui na rua, a cagar em cima das pessoas!
-Oh Tomás!
-É verdade! Até parece que fazem pontaria! Outro dia, houve uma que não me acertou por cinco centímetros!
-Coitadinhas...
-Coitadinhas das pombinhas!... -troçou o meu irmão, esforçando-se por imitar a minha voz- Olha lá, Carolina, vou-te fazer uma pergunta: alguma vez viste pombos bebés?
-O quê?
-Alguma vez viste pombos pequeninos!
-É claro que não: estão nos ninhos!
-Errado! -corrigiu ele -Eles nascem já grandes, prontos p'ra comer!
-Que parvoíce!
-Não, é verdade!- garantiu-me, com um ar muito seguro.-Então e pombos velhos, já viste?
-Não...
-Vês!? Eles comem-se uns aos outros!
Ri até chegar à faculdade.

Os alunos são uma das melhores fontes de exploração de sempre

Realiza-se, anualmente, um ciclo de conferências na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Este ano, os convidados a conferenciar rejubilaram ao ver o auditório cheio, e confessaram que, nos anos anteriores, quase ninguém viera assistir as suas conferências.
Pergunto-me se saberão que este ano um dos professores da faculdade encarregou os seus alunos escreverem meticulosos relatórios sobre as conferencias...
O meu professor.
Assim, eu e os meus colegas abdicámos na nossa única tarde livre, para, desde as quatro às seis horas apontarmos nos nossos cadernos tudo quanto conseguíssemos sobre cada uma das conferências.
Foi um desafio difícil: recebemos entre os convidados dois espanhóis, que conferenciaram na sua língua materna; um francês que com muito esforço conferenciou em inglês; duas senhoras que se sentaram diante da secretaria e, sem aproximar a boca do microfone ou levantar os olhos do papel, começaram a ler; e muitos outros...
Muitos de nós desistiram e tiveram de abandonar a sala, outros sucumbiram ao sono e adormeceram nas cadeiras almofadadas, mas rijas, do auditório.
Tanto esforço, para, numa das últimas conferências, o meu professor anunciar a edição do livro de atas das conferências.
Suponho que, tal como as conferências este ano foram um estrondoso sucesso, o livro há-de ser um best-seller.

domingo, 1 de novembro de 2009

Minões, minões, minões!

Um índio norte-americano disse certa vez que dentro dele viviam dois cães, um bom e um mau, que lutavam sem parar desde o dia em que nascera. Quando lhe perguntaram qual dos cães venceria a briga, ele respondeu: "Aquele que eu alimentar."

Parece bastante simples.

Só que cada um dos cães tem filhos; várias ninhadas, montes de cachorros! Alguns bebés são parecidos, e, sem se importarem com a luta dos pais, brincam todos juntos.
É muito dificil distinguir os filhotes do cão bom dos do cão mau, e é dificil saber quais devemos ou não alimentar.