quinta-feira, 1 de novembro de 2012

É sempre a andar!

Tenho o hábito de escrever apenas quando me sinto triste. Ora, há que mudar isso, e hoje é um dia tão bom para o fazer como outro qualquer. Hoje, tive um dia mesmo bom.
Dormi tudo o que tinha a dormir, encontrei o meu passe de transportes públicos (há muito desaparecido), e ao abrir o e-mail, tive uma surpresa muito agradável. Saltitando de degrau em degrau, desci as escadas e saí à rua, para sem me preocupar com horas nem com nada (um luxo que gozo poucas vezes), dar uma voltinha. No caminho, entrei pela primeira vez numa lojinha portuguesa, onde comprei queijadas de feijão, um pão com chouriço e ainda me ofereceram um café. Ficou a saudade por um  bocado saciada, e eu, de tão contente, voltei para casa a cantar baixinho esta canção:

"Lá vai o comboio, lá vai a apitar,
Lá vai o comboio, tão longe do mar!
Lá vai o comboio, queira logo entrar,
Que este o comboio não vai esperar!"

Tão bem disposta, já não custava tanto rir-me de toda a intriga. E para manter a moral em alta, recordei ainda a boa sabedoria popular que há tanto tempo conheço e quase nunca emprego. Coisas do género: "Mais vale um pássaro na mão, do que dois a voar". E como se os atenciosos conselhos do meu povo não bastassem, evoquei as razões históricas, mais nobres: "Há que honrar tão antigas alianças...".
Sim senhora, foi um grande dia.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012


O cuidado pela beleza, o prazer nas artes e a paixão pela cultura... Tudo o que eu era desapareceu consumido pelo cansaço.               

segunda-feira, 18 de junho de 2012

o meu primeiro dólar

-And here's a little something for you. - disse a senhora, estendendo-me uma nota.
Pela cor e proporções, soube imediatamente que não se tratava de Euro, e que era portanto completamente inútil para mim. Confusa, hesitei durante um segundo. Mas a senhora insistiu:
-It's for you. It's a tip.
Decidi aceitar o dinheiro sem me queixar, achando que seria indelicado pedir à senhora: "Could you check your wallet for Euros, if you don't mind? 'Cose since you're going to give me a tip, you might as well give me one I can use".
Agradeci e saí do quarto, certificando-me de que a porta estava bem fechada atrás de mim. No elevador, de volta à cozinha, olhei para o dinheiro. Era uma nota de um dólar.
Não consegui reprimir um surpreso e fascinado "Oooh!".
Nunca na minha vida tinha visto um dólar mesmo à minha frente, quanto mais segurado um. Examinei detalhadamente os desenhos, e perguntei-me qual seria o significado de cada um. Quando o elevador parou, pensei com uma certa vergonha que devia parecer uma pobre imigrante, daquelas que sonha o Sonho Americano sem sequer ter visto a América, e que nutre crenças ignorantes do género "não há gatos na América, e as ruas estão cheias de queijo".
Há que ter orgulho e preservar a nossa dignidade.
Enrolei a nota e escondi-a no meu punho fechado, não fosse algum colega vê-la e revelar-me alguma regra que me obrigasse a partilhar as minhas gorjetas com o resto do pessoal. Até porque nunca vi mais ninguém receber uma.
Discretamente, guardei o meu dólar na minha mala e voltei a minha atenção para uma família de hóspedes: era urgente levar para a cozinha os pratos sujos, antes que o bébé sujasse ainda mais a mesa que os pais desesperadamente tentavam limpar.

domingo, 10 de junho de 2012

Nós e o amor

Pensando bem, acho que os sentimentos só foram valorizados (até demais), durante o Romantismo, tão desprezado desde o seu ultimo dia como no primeiro foi trágico, arrebatador, ou, dizia uma professora minha, "sublime".
Parece-me que hoje vemos os sentimentos, principalmente ao amor, como algo nefasto.
Quaisquer demonstrações de se estar apaixonado são foleiras, pirosas. Sentir a falta de alguém é sinal de fraqueza. Assumir um compromisso é abdicar da liberdade, preferindo tranquilidade e responsabilidade (tão associadas à velhice), em vez de folia e descontracção (características da juventude, hoje idolatrada como nunca antes foi). 
A indiferença é atraente, não se "precisar" de ninguém é confundido com independência, e a promiscuidade  é (para alguns e até certo ponto) uma qualidade, porque, ironicamente, uma pessoa que não tenha uma vida amorosa (leia-se antes "sexual") activa não é invejável... .
Acho que, pelo menos no mundo ocidental, vivemos no sentido da realização do indivíduo, e, dependendo das vantagens ou desvantagens que poderá trazer a cada um de nós, o sucesso de uma relação (seja ela entre um casal, uma família, ou mesmo comunidade) é secundário.
Gostaria de sublinhar já no principio deste parágrafo (para não correr o risco de ser mal interpretada) que não sou anti-feminista ou machista ou nada que se pareça. Partilho a opinião da esmagadora maioria das pessoas de hoje em dia de que ambos os sexos devem ter os mesmos direitos e deveres. E quero ainda acrescentar que este texto não se trata de uma critica, mas de uma humilde análise, e admito que pode estar errado. Penso que a nossa maneira de encarar os sentimentos, e consequentemente as relações, começou a mudar, muito lentamente, a partir do momento (não me refiro, naturalmente, a uma data específica) em que as mulheres começaram a poder comportar-se como homens. Agora capaz de se sustentar, a mulher é independente. Já não precisa de se preocupar com encontrar e manter um parceiro que possa dar-lhe a vida que ela quer. Por sua vez, o homem está livre do fardo de sustentar toda uma família. Já nenhum deles depende do outro, e portanto as suas responsabilidades perante o parceiro são cada vez menores, assim como a importância do compromisso. Este não foi o único factor a contribuir para esta mudança, claro. Todavia penso que poderá ter sido dos mais importantes.
Agora que as relações amorosas são efémeras e insignificantes, ou aborrecidas se longas, constituir família é o terrível primeiro passo para estabelecer um série de relações ainda mais sufocantes que qualquer ligação passional: ligações paternas.
Ao contrário das relações passionais, as relações paternas são (salvo lamentáveis excepções) vitalícias, consomem muito tempo e, exigem muita responsabilidade. Por outras palavras: requerem sacrifício.
Um bebé a crescer no ventre da mãe é como um cancro a devorar com apetite insaciável a vida dos pais.

Talvez tenha sido demasiado fria ao escrever isto. Eu própria não tenho a certeza se não o terei feito sob influência da minha personalidade romântica desiludida.


terça-feira, 15 de maio de 2012

Sinto a tua falta como se te tratasses de um membro amputado.
Todavia, seria injusto dizer que és o meu amparo.
Tu és mais, muito mais,
Do que os ossos que sustentam a minha carne.

Sangue do sangue de alguém, todos são.
Tu e eu, somos a única pessoa
Que viveu duas vezes.

Um a um os dias passaram,
Nós vi-mo-los. E chorámo-los.
Mas não fizemos nada.

Nada era certo e ninguém era feliz.
Mesmo assim, era tão bom.
E agora, de repente, tudo mudou.

Hoje, olho em frente e vejo a estrada,
E sei para onde vou,
Mas não porquê.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A vergonha dos Portugueses

Sempre que conheço uma pessoa nova e lhe revelo que sou portuguesa, ela fica logo toda contente. Conta-me que tem montes de amigos portugueses, e que adora portugueses, porque os portugueses são todos alegres, divertidos, e por aí fora... Normalmente,perante todo este entusiasmo, limito-me a curvar os lábios num sorriso forçado. Mas o que me apetece mesmo é responder-lhe com num tom trocista: "Desculpa lá, mas eu vou desiludir-te!".
Sou uma pessoa bastante reservada. Salvo raríssimas excepções, não me sinto à vontade junto de desconhecidos, e só ao cabo de algum tempo consigo confiar neles. Sou, também, muito séria. Dificilmente rio e ainda mais dificilmente faço alguém rir. Isto faz de mim uma das piores companhias possíveis para uma festa. E para muitas outras coisas.
Todavia, persisto em contrariar a minha natureza anti-social: temendo morrer sozinha rodeada de cães, de vez em quando concordo em aparecer numa ou noutra festa, com o intuito de fazer amigos.
Hoje aceitei um convite para uma festa de um mexicano com quem devia ter convivido um total de vinte minutos. Quando ele me telefonou para descrever a dita festa, eu estava num ruidoso pub, e não compreendi tudo o que ele me disse. Por isso, ao sair de casa, estava convencida de que ia assistir a um concerto "mariachi" numa festa plena de convidados jovens que se desconheciam.
Em vez disso deparei-me com uma humilde festa familiar, em que os convidados tinham ou dois anos ou mais de trinta, e eram amigos de longa data. Para mim, foi como entrar na arena de um circo romano, onde variadas feras me esperavam. As pessoas faziam turnos ao redor dos fogões, preparando uma série de pratos, incluindo um português. Para desilusão geral, eu não sabia como preparar o tal prato português, pelo que não os pude ajudar. O mexicano que me convidara desafiou-me para um jogo de ping-pong. Tentei recusar amavelmente, sabendo que qualquer tentativa de participar num desporto organizado resultaria na minha humilhação. Mas ele tanto insistiu que não pude negar. Felizmente para mim, o meu adversário foi paciente e ao fim de alguns serviços estava finalmente a apanhar o jeito. Foi então que ele chamou outro rapaz (leia-se homem) para jogar comigo. Este jogava tão mal quanto eu, pelo que o ambiente tornou-se pesado e depressa o jogo terminou. Sugeri-lhe que jogássemos antes cartas. Mais por educação do que por vontade ele concordou. Não me importei: depois de experimentar o "pepe-rápido", até o jogador mais céptico se diverte a valer com um baralho de cartas.
Pela primeira vez, isso não aconteceu.
Depois de algumas vazas, já estava à espera que qualquer acaso pusesse um fim àquele jogo. As minhas preces foram ouvidas, mas da pior maneira possível: uma adorável bebé aproximou-se de mim e pediu-me para jogar. Aliviado, o meu oponente largou o seu baralho e foi para a cozinha, deixando-me a sós com a menina.
Não tenho jeito nenhum para crianças. Normalmente, graças a algum maravilhoso instinto, os miúdos evitam-me. Alguns choram só de olhar para mim. Acho que até hoje, só um bebé se tinha afeiçoado a mim. Esta foi a segunda. Insegura, concordei em jogar com ela. Basicamente, as duas púnhamos uma carta de cada vez na mesa, e, independentemente das nossas jogadas, ela ganhava e eu perdia.
Quando ela se cansou do nosso jogo, eu olhei para o relógio sobre a lareira. Nem acreditei que ainda só tinha passado uma hora.
Esperei mais um pouco, e depois, educadamente, despedi-me de toda a gente e saí. Mas, antes que eu o fizesse, um espanhol teve a simpatia de me revelar que entendia português. "Ai, é?" disse eu. "Olha, obrigadinha, agora é tarde demais, não?!" pensei eu.
Eles foram simpáticos. Sem dúvida. Um português como deve ser, daqueles que falam alto e riem com vontade e que são a alma da festa teria apreciado aquele tempinho.
Eu é que sou assim.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

sábado, 28 de janeiro de 2012

Saudade

Às vezes, quando me deito, penso que o meu dia não mudou o dia de ninguém. Parece que, subitamente, acordo. Como se pela primeira vez naquele dia estivesse consciente.
Sem eles aqui, tudo parece vago. É muito fácil distrair-me. Apesar de recordar todos os dias os meus objectivos, é comum dispersar a minha atenção, e dar comigo a divagar.
Se tudo correr conforme planeado, o começo da minha vida terá um final feliz, e todos os dias o sol vai brilhar por detrás das nuvens espessas que constantemente cobrem o céu deste país frio, onde as pessoas são tão mais elegantes e vivem em escuros palacetes de tijoleira.
Ficar aqui trazer-me-ia inúmeras vantagens a nível profissional, tornar-me-ia mais matura, e permitir-me-ia um estilo de vida muito diferente daquele que levava na minha terra.
Mas eles não vão estar aqui comigo.
Indigna-me que eles não possam partilhar esta vida comigo. Revolta-me.
Para viver a vida que eu queria, não tinha de me separar deles. Bastava que o meu país no-la pudesse oferecer.
"Eu volto, eu volto..." vou repetindo.
E se não voltar?
Então já não sei o que fazer.








Amanhã vou estar melhor.