segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Moro no topo de uma altíssima torre. Através das janelas sujas, eu consigo ver o mundo, envolto num espesso nevoeiro. Como algumas coisas se veêm muito mal, ou nem sequer se veêm, eu imagino-as.
Poucas pessoas passam por aqui, e costumam ignorar a minha torre. Mas também já houve quem se interessasse por ela: contornaram-na repetidas vezes, indagando o que haveria lá em cima. Os mais curiosos (ou fascinados), atreveram-se a escalar a parede de pedra.
Ao chegarem ao cimo e depararem-se comigo, perguntaram-me: "Vives aqui presa? Porquê?"
E eu respondi que não sabia.
Não me entendo: eu quero conhecer o mundo lá fora, e até posso fazê-lo: há na minha torre uma porta, por onde eu poderia sair. Mas a porta só pode ser aberta a partir de dentro, e, cada vez que decido fazê-lo, eu hesito, tenho medo e vergonha, e a madeira fica tão pesada que por mais que empurre ou puxe a maçaneta, as dobradiças não cedem, e eu acabo por desistir.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Eu invejo os poetas. Porque num só verso, põem coisas que não cabem na minha prosa, e falam de emoções que não têm nome, e descrevem-nas com a exactidão com que eu não consigo.