Há algumas semanas, estava no jardim a estudar para a frequência de história da arte, rodeada dos meus cães, quando me apercebi de dois melros que voavam muito perto do chão, piando alto e sem parar.
Dois dos meus cães levantaram-se num salto e correram atrás deles. Não me preocupei: são pássaros. Sabem voar e são rápidos. Dois cães preguiçosos como os meus, que se cansam depois de correr uns metros, não são perigosos para melros.
Só que no momento seguinte, o meu tio, que vinha carregado com um cesto de roupa, disse:
-Carolina, acho que o Alex e a Nicky apanharam um pássaro!
Voltei-me na cadeira e vi Nicky correr vitoriosa para mim, segurando algo entre os dentes:
-Nicky, NÃO! -gritei-lhe.
Imediatamente a cadela largou a sua presa e ao ver-me correr para ela fugiu.
Era um melro bebé.
Tirei-o do chão, segurando a cabecinha frágil enquanto lhe murmurava que estava tudo bem.
O pássaro fechou muito devagar o bico, e encolheu as patas como se fosse uma pessoa a encolher-se de dor. Lentamente, fechou os olhos.
Por fora, parecia bem. Só se diria que morrera porque os meus cães o tinham apanhado por causa das penas, que estavam encharcadas de baba. Devia estar partido por dentro, ou então foi o coração que não aguentou.
Imagine-se o que seria, estarmos nós desprotegidos e incapazes de fugir, e vir um bicho enorme caçar-nos, prender-nos entre os dentes cortantes e esmagadores, apertando-nos entre o céu-da-boca e a língua e sufocando-nos com o seu bafo imundo, diante dos olhos dos nossos pais, que observavam tresloucados e impotentes!
Esperei um bocado com o corpo nas mãos, na esperança que tivesse desmaiado.
Mas nada aconteceu.
Era tão pequenino ainda, coitado... O ventre ainda estava coberto de uma penugem fofa em vez de penas, e a pele era lisa debaixo das asas e no pescoço.
Voltei a pousá-lo no chão e enxotei os meus cães. Depois, fui-me embora e continuei a estudar. Dentro de pouco tempo, as formigas começariam o seu trabalho.
Sem comentários:
Enviar um comentário