Já passou tanto tempo que me espanta que alguém seja capaz de descobrir o local onde tudo foi enterrado. Afinal, tratei de calcar e recalcar a terra recalcada, depois de o enterrar o mais profundamente possível.
O lugar mudou muito desde então: cresceram plantas, rolaram pedras... Está completamente diferente. Eu própria já não o conseguiria encontrar.
Todavia, houve alguém que o fez: o meu antigo companheiro traiu-me, decerto, e indicou-lhe o local de descanso daquele pobre diabo. Tenho que admitir que não esperava que ele se lembrasse.
A sepultura foi aberta, e um saco de plástico preto daqueles para o lixo, foi de lá tirado, todo sujo de terra. Estava inesperadamente leve.
Antes, talvez me indignasse pela profanação daquele lugar aonde só eu e ele deveríamos ter acesso, mas agora não me importei.
O saco foi aberto, e imagino que a intrusa tenha ficado surpreendida, e mesmo incrédula, ao descobri-lo vazio. Já nem sequer havia um cadáver podre e mal-cheiroso lá dentro: só algum pó, que se confundia com a terra que conseguira penetrar no saco. Ali já não se encontravam nem mesmo vermes.
Não sei se estará aliviada ou irritada, ou se desconfiará das coordenadas que lhe foram dadas.
Seja como for, não me diz respeito e não me importa.
Apesar de estranho isso me parece muito familiar...
ResponderEliminardesculpa....