quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O momento em que eu mudo

Durante todo o tempo que passei de férias, estive acompanhada: mesmo durante o sono. Às vezes, até enquanto estava a tomar um duche havia a possibilidade de alguém entrar na casa-de-banho, para me informar de algo. Assim, passei da solidão triste de Bruxelas à companhia evasiva de Lisboa. Foi como se me tivessem despejado em cima um reconfortante balde de água gelada.
Ocasionalmente, apercebi-me de que não tinha tempo para estar comigo mesma. E, tal como se tivesse saudades de outra pessoa, senti a falta da minha própria companhia.
Terminadas as férias, a minha família levou-me ao aeroporto. Enfrentámos juntos os momentos stressantes do processo do check-in, passámos uma última meia-hora juntos; e, finalmente tivemos de nos despedir.
Quando me afastei deles, um sentimento familiar apoderou-se de mim subitamente: tive a sensação de me ter re-encontrado, ali, naquela exacta parte do aeroporto onde os meus entes queridos deixavam de conseguir ver-me:
-Ficaste aqui à minha espera, foi? -perguntei num tom trocista, e muito baixinho, não fosse alguém reparar que estava a falar sozinha.
Entretanto, o meu eu que ali tinha ficado agarrava-se a mim sofregamente, de tão ansioso que estava pela falta que lhe tinham feito o meu corpo e o seu resto de mim.

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